Pesquisa teve a participação da clínica curitibana Quanta Diagnóstico por Imagem
A pandemia da Covid-19 impactou o sistema de saúde mundial, afetando também o tratamento de outras doenças. Estima-se que 718.000 exames de diagnóstico por imagem de doenças cardiovasculares deixaram de ser realizados em todo o mundo somente em março e abril de 2020. Isso é o que mostra o estudo “Impacto Internacional da Covid-19 no Diagnóstico de Doença Cardíaca”, promovido pela Agência Internacional de Energia Atômica, que contou com a participação da Quanta Diagnóstico por Imagem, junto com outros 908 centros de diagnóstico cardíaco em 108 países de todas as regiões.
“Pelo que temos conhecimento, esse foi o primeiro estudo de avaliação global em grande escala do impacto inicial da Covid-19 na quantidade de realização de exames de diagnóstico cardiovasculares em todo o mundo”, afirma o cardiologista Dr. João Vítola, diretor geral da Quanta Diagnóstico por Imagem.
A pesquisa apontou que, na comparação de março de 2019 e 2020, a quantidade de exames de imagem cardiovasculares diminuíram 42%. Analisando somente abril de 2020, essa queda foi ainda maior: 64% em relação ao mesmo mês em 2019. As maiores reduções aconteceram na América Latina e Oriente Médio. “Na América Latina, houve uma queda de 82% no número de exames em abril de 2020 quando comparado a marco de 2019”, revela Dr. Rodrigo Cerci, diretor de Pesquisa e Inovação e do Serviço de Angiotomografia Coronária da Quanta Diagnóstico por Imagem. O estudo não avaliou os países isoladamente.
Os serviços de saúde enfrentaram uma situação sem precedentes por causa da pandemia, precisando disponibilizar todos os recursos necessários para o tratamento da Covid-19, o que acabou limitando o diagnóstico e tratamento de outras doenças. “Mas, embora a Covid-19 seja o desafio principal dos sistemas de saúde hoje, as doenças não transmissíveis continuam sendo prioridade”, ressalta Dr. João Vítola.
As doenças cardiovasculares ainda são a principal causa de mortalidade no mundo inteiro, tanto em países de baixa quanto alta renda, sendo responsáveis por 18 milhões de óbitos todos os anos, além de ser um fator de risco para o agravamento da Covid-19.
Antes da pandemia, era registrado em todas as regiões do mundo um declínio na mortalidade por doenças cardiovasculares devido aos avanços e maior acesso ao diagnóstico e tratamentos precoces. “A queda na realização desses serviços afetará não só a saúde dos pacientes, como também possivelmente reverterá essa queda de óbitos por decorrência cardiovasculares observados nas últimas décadas”, aponta o cardiologista.
Esse é um primeiro estudo e mais pesquisas são necessárias para avaliar os efeitos da pandemia no comportamento do paciente e na limitação de acesso ao diagnóstico e tratamento de doenças cardiovasculares. Mas, de acordo com Dr. João Vítola, os dados obtidos já são importantes para avaliar estratégias futuras para os serviços de saúde cardiovascular, além de ajudar em um planejamento para que a avaliação de doenças cardíacas seja menos impactada em possíveis novas ondas da Covid-19 e até mesmo futuras pandemias.
Impactos maiores em países de baixa renda
O estudo ainda analisou separadamente a realização de diferentes exames cardiológicos. Os procedimentos de ecocardiografia transtorácica diminuíram 59%, de ecocardiografia transesofágica 76% e os testes de estresse 78%, que variaram entre as modalidades de estresse. A angiografia coronária (invasiva ou tomografia computadorizada) teve diminuição de 55%.
As quedas nos exames foram maiores em países de média e baixa renda, que tiveram uma redução adicional de 22% nos testes diagnósticos de doenças cardíacas.
Os países de renda mais baixa também foram os que sofreram mais com a indisponibilidade de EPIs, ocorrida no início da pandemia, principalmente a escassez significativa de máscaras de alta filtração, como a N95. A implementação de estratégias de telessaúde para continuar o acompanhamento dos pacientes também foi menor em regiões mais pobres: o serviço foi implementado em 60% dos centros em países de alta renda, cerca de metade dos centros em países de renda média alta e média baixa e em nenhum dos centros países de baixa renda.
Logo, esforços para melhorar o acesso ao diagnóstico cardiovascular são necessários, particularmente nesses países de média e baixa renda. Quando não acompanhadas e tratadas corretamente, as doenças cardiovasculares podem evoluir para aumento nas internações, infartos e morte.
“As demais doenças não deixam de existir devido à pandemia e condições potencialmente muito graves, como infarto e insuficiência cardíaca, precisam de diagnóstico imediato devido à alta mortalidade”, alerta o Dr. Rodrigo Cerci.
O cardiologista orienta que ao sentir os sintomas típicos, é necessário procurar atendimento médico imediato, pois o risco de morrer por um infarto é maior do que morrer por Covid-19. “Do ponto de vista das instituições (clínicas, hospitais, etc.), devem estar preparadas para atender pacientes com suspeita de Covid de forma separada das demais patologias, permitindo assim o atendimento seguro de todos”, salienta.