Processo inflamatório crônico e hiperglicemia associados à diabetes podem estar relacionados a uma evolução mais grave quando a pessoa contrai o novo coronavírus
A diabetes está entre os principais fatores de risco para uma evolução mais grave da Covid-19. Em Curitiba, cerca de 30% das pessoas que morreram eram diabéticas. Mas, por que a diabetes provoca esse agravamento? Segundo o cardiologista e pesquisador da Quanta Diagnóstico por Imagem, Dr. Miguel Morita, isso ainda não está totalmente elucidado, mas é possível que a presença de comorbidades comuns na diabetes, como obesidade, hipertensão e doenças cardiovasculares, contribuam para isso.
“Especula-se também que o processo inflamatório crônico na diabetes possa aumentar o risco de uma resposta inflamatória mais grave quando a pessoa contrai a Covid-19. Além disso, sabe-se que a hiperglicemia (níveis aumentados de glicose no sangue) em um paciente que tem infecção grave aumenta o risco de óbito, mas isso ocorre com qualquer infecção grave, não somente com a Covid-19”, explica.
Estima-se 425 milhões de pessoas no mundo todo sejam diabéticas. Somente no Brasil, de acordo com dados do último levantamento do Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico (Vigitel) de 2019, são um pouco mais de 15 milhões de pessoas.
Existem dois tipos de diabetes: a tipo 1, que provoca uma deficiência de insulina e ocorre em jovens, sempre levando ao uso de insulina, e a tipo 2, quando a produção de insulina é normal, porém a ação dela é inadequada e costuma aparecer em pessoas mais velhas. No caso da relação com o agravamento da Covid-19, existem poucos dados sobre o tipo 1, embora acredite-se que também aumente o risco. “Já pacientes com diabetes tipo 2 que usam insulina geralmente têm uma diabetes mais avançada e com controle da glicemia mais difícil. Por isso, o risco provavelmente é maior”, revela Dr. Miguel Morita.
Mas, com um tratamento adequado, é possível prevenir pioras em infecções. “Há um consenso geral de que o controle da diabetes, pelo fato de reduzir a chance de desenvolver hiperglicemia, reduza o risco da infecção se tornar mais grave. Portanto, vale ressaltar a importância de se fazer um tratamento adequado da diabetes, comparecendo às consultas e mantendo o tratamento”, salienta o cardiologista.
É fundamental lembrar ainda que a diabetes é um dos principais fatores de risco para o desenvolvimento de doenças cardiovasculares, que já mataram mais de 190 mil pessoas somente em 2021, de acordo com os dados do Cardiômetro da Sociedade Brasileira de Cardiologia. Essas doenças também são o principal fator de risco presentes nas mortes por Covid-19.
Probabilidades de desenvolver diabetes
A diabetes costuma não causar sintomas. Muitas pessoas acreditam que a doença cause perda de peso e aumento de urina, mas o cardiologista explica que esses são sinais característicos da diabetes tipo 1. “Quando esses sintomas aparecem na diabetes tipo 2, a mais comum entre a população, ela está em fase mais avançada, com mal controle da glicemia. Na maior parte das vezes, a diabetes inicia de maneira silenciosa”, alerta.
O envelhecimento e a obesidade são os fatores de risco mais comuns para o desenvolvimento da diabetes tipo 2, mas a má alimentação, o tabagismo, o sedentarismo e o alcoolismo também estão associados, tanto em homens quanto mulheres. “Os adultos com 45 anos ou mais ou em qualquer idade que apresentarem sobrepeso, história familiar de diabetes ou história de diabetes gestacional também têm um risco maior de desenvolver a doença”, observa o cardiologista.
Os testes de sangue são a única maneira de realizar o diagnóstico. Os níveis adequados de glicose variam conforme cada caso. “No exame de hemoglobina glicosilada, utilizado para o diagnóstico da diabetes, considera-se a meta de abaixo de 7% geralmente aceitável para diabetes tipo 2, mas isso depende de outras situações. Também é fundamental controlar outros fatores de risco como o colesterol e a pressão alta, afinal, o risco de desenvolver doenças cardíacas é maior na diabetes”, orienta Dr. Miguel Morita.